segunda-feira, 17 de maio de 2010

Vinha de um relacionamento estúpido com uma menina que a única coisa que tinha feito de bom pra mim era ter quebrado todos os pratos da minha cozinha. Ela era uma mistura de rock com samba e cabelos chacheados.

Depois do fim fiquei uns dias sem ir trabalhar e nem ir para a aula. Ficava o dia inteiro deitado olhado para o branco do meu teto. Cansei de contar as manchas de mofo e do preto da nicotina que faziam desenhos caprichados encima de mim.

Juntei um pouco de coragem e na sexta-feira de noite peguei um ônibus e parei na lagoa.

Andei e andei até que achei um pub bem sujo e desajeitado, onde estava tocando qualquer música do The Cure. Juro que não consigo lembrar a música porque tudo acabou acontecendo muito rápido.

Fui para o bar e pedi uma cerveja. Quando olhei para o lado, me deparei com ela. A menina tinha, no máximo, 17 anos. Cabelo ruivo bagunçado, piercing no lábio e tatuagem no braço. Os olhos cor-de-mel refletiam uma dose de whisky barata e o vermelho deles já me despertava a certeza que ela era dependente química. Vestia uma blusa branca do Strokes e um shorts de jeans verde água.

Sempre fui tímido e não consegui pensar em nada do que conversar com ela. Ela representava o perigo. E isso sempre me atraiu.

Ela percebeu que eu estava olhando para ela e sorriu. Os dentes dela eram todos uniformes e um sorriso branco apareceu por trás daquele rosto pálido. Chegou mais perto e me disse:

- Nunca te vi por aquí.
E ela estava certa, fazía talvez mais de 2 anos que não sabia o que era a Lagoa. Talvez quando eu tinha a idade dela e morava na Av. das Rendeiras, ela fosse uma criança. ou Talvez nem isso.

- Faz tempo que não venho por aqui - indaguei. Qual teu nome?

- Me chamam de Angel e tenho 15 anos.

- Eu não perguntei tua idade, garota.

- Mas é bom tu saber ela antes disso. Quando percebi, estava numa luta entre lábios e língua. Ela tinha se jogado encima de mim e pelo jeito eu não ofereci nenhuma oposição.

Segunda-feira, por volta das 14 horas. Acordei na minha cama. Angel estava de calcinha e a blusa branca do Strokes (nessa altura já quase marrom), parada de costas para mim, cozinhando alguma coisa. Pelo cheiro, podería ser arroz com ovo.

Levantei e disse:

- eu te amo.

ela respondeu:

- eu sei, e eu também. Mas mesmo assim preciso voltar para minha casa.

- Anota teu número e pendura na minha geladeira, te ligo assim que voltar do meu trabalho. Virei para o lado e dormi.

Acordei umas 6 horas depois. E ela já tinha ido. Tinha escrito com batom o número dela na parede. Fiquei chateado mas feliz ao mesmo tempo. Acabei que nunca mais vi ela, sequer liguei para ela. Eu a amava desse jeito e talvez a convivência tería estragado tudo.

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