quinta-feira, 22 de julho de 2010

Luna Sobre Dunas

Segurei a mão dela e senti a pior sensação poderia imaginar: Ela estava morrendo. Consegui perceber isso só de tocar a pele dela. Estava fria e branca. Ela não conseguia se mexer.

Comecei a gritar, mas o som era abafado por o ruído infernal de uma turbina de avião. Engraçado, mas não havia nenhum motor perto de nós capaz de fazer semelhante barulho. Estávamos sozinhos num campo de futebol cheio de rosas vermelhas no centro. John Lennon e o submarino amarelo passaram ao meu lado e ele me olhou aos olhos, dizendo: "A vida é aquilo que acontece enquanto você está planejando o futuro."

Sentia frio e sede. Já não sabia se ela estava morrendo ou se éramos mortos querendo viver. O céu mudava de cinzento para vermelho e amarelo e as flores aos poucos iam se tornando pessoas coloridas.

Conseguia ver todo mundo: Morrison, Elvis e meus pais. Eles tinham ido embora de casa quando eu tinha 16 anos. Nunca mais tinha pensado em encontrar eles e, justamente agora, os via caminhando lentamente em minha direção.

Pensei em acabar com aquilo e procurei uma navalha que sempre carregava comigo por viver num bairro humilde demais para um país como o meu. Encontrei-a dentro do meu sapato direito e cortei meu pulso. Abelhas começaram a sair nervosamente de dentro de mim. Dezenas, centenas, milhares de insetos zuniam em todas as direções possíveis.

Ela estava morrendo. Ela flutuava na minha frente, mas estava morrendo. Tentei segurar ela com todas minhas forças, só que aquelas abelhas estavam carregando ela para longe de mim. Tentei gritar só que não conseguia emitir som algum. Ao meu lado repousou um homem de cabelo marrom e roupas velhas e sejas que num teclado imaginário começou a tocar as notas de Light my fire.

Olhei para cima e uma gota de sangue caiu na minha testa. Olhei para baixo e senti minhas pernas sob águas profundas. Estava me afogando numa poça de sangue. Quando o liquido chegava ao meu peito, tudo ficou escuro e eu adormeci.

Abri meus olhos rapidamente e olhei furtivamente aos lados. Tudo parecia em ordem. A minha menina estava deitada de bruços ao meu lado, nua e linda como nunca. Pela janela de nossa sala entrava timidamente o sol da manhã (ou do inicio da tarde?) e refletia diretamente no amor da minha vida.
Pelo jeito, tínhamos tido mais uma noite normal.

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