Teria sido um bom pai de Familia. Gostava bastante de Hardcore, aquele estilo musical de protesto, embora não precisasse protestar da vida. Aos 21 anos, tinha morado em quatro continentes, pelo intenso trabalho diplomático que a mãe exercia. Filho de um designer Uruguaio, ele conhecia muito bem a língua do Cervantes, assim como o português e o francês, fruto da adolescência vivida em Paris.
O mundo era pequeno demais pra ele, porém achou em Florianópolis a cidade para passar de jovem para adulto. Era estudante de ciências socias e frequentador assíduo de todas as festas que a Universidade oferecia.
Seus olhos verdes eram um cartão de visita absoluto, assim como seu sorriso perfeito. Ele não chegou a saber que sofria de hepatite C, devido ao hábito de transar com qualquer menina sem camisinha. E ele transava muito. Dificilmente voltava ao seu apartamento de 3 quartos (luxo supremo na vida acadêmica) sem nenhuma mulher para amar. A maioria eram deles por apenas uma noite. Ele não ligava de volta.
Ao som de Ventures, projetava sua vida a médio prazo. Voltar ao Rio de Janeiro, trabalhar para o governo e depois, quem sabe, rumar para a França novamente.
Ele era viciado em cocaína. Talvez a liberdade de morar sozinho e não precisar olhar a poupança todo mês facilitaram dito ato. Muitas vezes ele se sentia sozinho e era nesse momento que nossa branca amiga entrava em ação.
Era uma sexta-feira qualquer, talvez era uma festa no campus ou perto dela. Ninguém lembra do fato. Poucos lembram do rapaz pegando carona com a deusa da noite, uma menina loira e tatuada estudante de Letras francês (vous m'aimez tout à l'heure?) que estava fazendo intercâmbio na Ilha da Magia. Aquela noite tinha sido inusitada, pois a menina vinha rejeitando ele desde o momento que se encontraram pela primeira vez, perto da primavera.
Ele se segurou nas costas da menina e os dois, envoltos numa tíbia brisa, partiram rumo à Lagoa da Conceição, local onde a menina passava suas noites num apertado quarto, traduzindo obras de Voltaire.
O destino colocou frente a eles um carro com placa de Joinville, cidade que ele nunca chegou a conhecer. A batida foi tão forte que ele acabou a perna direita e parte do braço, esmagado contra a porta traseira do Peugeot branco.
A vida se foi e sequer ele teve tempo de saber que seu pai traia a mãe com a secretária, que a irmã mais nova estava prestes a passar uma temporada no Brasil e que ele ganharia uma passagem para assistir a copa do mundo. Trágico demais para uma noite perto da primaveira.
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