Eram quase seis e meia da manhã. Acabei acordando com o barulho do apartamento do lado (talvez arrumando alguma coisa e indo trabalhar, não consegui distinguir nada além de um som estridente e oco) mas já era a hora mesmo de acordar. Deveria sair da casa dela até umas seis e quarenta e cinco, pois meu ônibus passava perto das seis e cinqüenta.
Coloquei minha roupa. Maria estava nua, envolta no lençol que tinha dado para ela em nosso segundo aniversário. Lençol preto. Gosto muito de deitar na cama e estar envolto pela cor preta. Isso aumenta a solidão quando estamos sozinhos, mas encaixa isso numa relação estável e não precisamos pensar nisso.
Mas voltando à Maria, ela ainda encontrava-se adormecida. Fiz o mínimo de barulho possível, mas mesmo no silêncio de um dia que começa a nascer, ela acabou acordando.
- Você me ama, mon amour? – Disse ela com aquele sotaque sulista que tanto amei nela.
- Como na última primavera, querida.
Peguei minha mochila e sai apressado. O conteúdo da mesma era basicamente um caderno, duas obras pocket de Stephan Zweig, um maço de Marlboro pela metade e uma peteca. Nesse tempo minha vida era um tanto quanto difícil.
Morar sozinho numa grande cidade tendo 25 anos não é simples, e ser um individuo sozinho e sem carro pode atrapalhar muito as coisas. Precisava sair da zona leste da cidade para chegar na Zona Sul, em apenas 1 hora. E nessa hora encontro com bastantes pessoas, daquelas que estão indo ao trabalho, levando seus filhos, procurando um futuro. Mas eles não entendem que o futuro é o hoje.
Cheguei no centro da cidade. Caos. Barulho. Morte ao redor. Parei um pouco de pensar nisso tudo e me encostei numa grade para fumar um cigarro. Estava sentindo que ia explodir por dentro e o sol já começava a se refletir no meu óculos. Estava sozinho e me sentia sozinho, embora estava numa das regiões mais densas do país. A solidão me perseguia e era cruel.
Foi quando chegou ao meu lado uma menina que veio a ser aquilo que eu procurava tempos depois. Loira, alta, com uma tatuagem em forma de cereja sai timidamente de seu short preto.
Quatro dias depois, nua envolta num lençol preto, ela sorriu e disse:
- Você me ama?
- Como na próxima primavera, querida.
teu lençol não é preto mentiroso é do boca junior!
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