Oui

Nota de página: Estes relatos fazem parte de um caderno pronto, achado depois do dia que ele foi embora. Conservei o mesmo título e a narração em primeira pessoa.

Estava em silêncio. Apenas o ruido das folhas caindo faziam a trilha sonora da tarde. Fazia um pouco de frio mas nada muito forte. Era até agradável. Me lembrava um pouco o clima que me fez crescer, um pouco mais ao sul do que me encontro hoje.

Não faço muitas coisas interessantes. Sou aluno de graduação em literatura americana e divido essa tarefa com a arte de ensinar Língua Inglesa na American Culture. Moro sozinho e faço minhas refeições em silêncio. Acompanhado às vezes por alguma música qualquer.

Nunca gostei de francês e nunca tive a oportunidade de estudar. Até tentei estudar durante minha graduação, mas minha fonética era terrível. Porém, sempre,a vida acaba por nós dar oportunidades e foi isso que aconteceu comigo, há mais ou menos dois meses.

Andava sozinho por um lugar qualquer, em algum barzinho da capital. Estava indo fumar um cigarro quando uma voz doce, susurrou para mim:

- Vous étudiez à UFSC?

Ela era morena. Tinha os olhos castanhos e um olhar intrigante. O cabelo, preto e vivo, chegava até perto dos ombros dela. A luz do local fazia seu rosto parecer mais escuro do que a pele branca de suas mãos mostrava. Estava sozinha e com um paquet de cigarettes na mão, provavelmente usado recentemente.

Fiquei parado e talvez de boca aberta. Ela deve ter achado graça disso, porque sorriu pra mim. Mas ela, mesmo não parecendo, não estava rindo de mim. Estava sorrindo para mim.

- Oui. Falei timidamente. Olhei fixo aos olhos dela e por um segundo, vi minha vida no futuro. Vi intrigas e felicidade. Vi loucura. Vi amor.

Assim, começou minha paixão pela França. E por ela.