Fundo de cena: Numa cafeteria tipicamente americana, aquelas de filme mesmo, escuras e com sofás de couro vagabundo, se encontra Frederico esperando alguém. A cena acontece no Brasil, então ao invés de um donnuts para acompanhar o café, não temos nada.
Minha garganta estava amarela de tantos cigarros que tinha fumado durante o dia. Ou talvez durante minha vida toda. Estava sozinho enterrado num banco de um café qualquer nos arredores do trabalho da Marcella. Ela poderia se chamar Roberta, Melissa ou Caroline, o efeito seria basicamente o mesmo.
Nunca tinha gostado de trabalhar, ao contrário dela. Com meus 22 anos nunca tinha conseguido ficar mais do que algumas semanas em empregos temporários. Já ela era uma empregada de carreira numa firma que dava oportunidades de crescimento.
Minha vida era meus livros. Não tinha nada além disso. Já ela disse que ia sairia do trabalho e viria de moto, que ela tinha adquirido com o dinheiro poupado nesse tempo todo de trabalho.
Éramos opostos, porém, nesse dia estava disposta a dizer toda a verdade pra ela. O amor que eu sentia estava me sufocando e eu precisava descarregar isso de algum lugar. Sempre fui um menino bonito, por isso nunca me faltaram mulheres para amar. Só que eu não tinha conhecido o amor até ela cruzar no meu caminho.
Foi numa noite de verão, acho que no final de janeiro, onde eu troquei as primeiras palavras com ela. Ela era “namorada” de um amigo meu. Na verdade ela nunca namorou com ele. Para ser mais exatos, éramos apenas adolescentes descobrindo o amor de um jeito triste e decepcionante.
Passou-se muito tempo dessa situação e nunca tinha conseguido esquecer aqueles olhos pretos me encarando com curiosidade. Talvez a vida tinha sido injusta em colocar eu naquela situação maçante. Foi muito confuso. Acabei deixando de freqüentar os mesmos lugares que eles para não precisar ver essa cena desagradável. O tempo cura qualquer ferida e realmente ela tinha cicatrizado. Mas tudo acabou voltando à tona. Aquela sms dizendo “preciso te ver. Me encontra às 16 no Le gateu” tinham mudado minha cabeça nas últimas horas.
O tempo foi cúmplice de nosso amor. E com aquele atraso normal para uma menina normal, ela apareceu segurando um charmoso guarda-chuva.
Seu sorriso era a coisa mais bonita que eu já tinha conhecido até a data. Sua pele bronzeada fazia o sorriso ficar ainda mais bonito. Coisas de apaixonado, pensei comigo mesmo, ou coisas da idade talvez.
Ela chegou na minha mesa e falou displicentemente:
- Oi Fred!
- Oi, eu estou apaixonado por você. Eu te amo.
E mais uma vez o tempo foi nosso aliado. O tempo que ficamos juntos, os momentos que se fizeram eternos e as marcas de uma paixão são simplesmente aquilo que nos faz sentir vivos.
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