Aos poucos, nosso já grande herói fracassado estava derrotado. Encontrava-se sozinho sentado naquele sofá verde. No maço de cigarros havia apenas um último cigarro. Rolava com o pé uma garrafa de Royal Salute de uma época oriunda de felicidade. Hoje ele estava triste. Hoje ele estava arruinado.
“Cadê os seus planos, cadê as meninas?
Você agora enche a cara e cai pelas esquinas
Eu quero você, mas não vou lhe ajudar
Não me peça dinheiro, não vou lhe entregar
Cadê a criança? Meu primo e irmão
Se perdeu por aí, com seringas na mão”
Ele resolve dar “um tempo”, sair da bolha, acabar com o tédio. Abre a gaveta e acha dois reais e vinte em moedas de cinco e dez centavos. Ao descer do prédio, esbarra com uma velha conhecida. Linda noite para andar são as palavras que ela disse. Ele sequer olha nos olhos dela para não ver o que ele tanto teme.
Chegando ao bar do lado do prédio, pega um maço de Euro e com a diferença compra uma dose de cachaça. Bebe no ato. Como ainda seus olhos azuis dão crédito no boteco, consegue uma dose de conhaque. Bebe. Fuma dois cigarros e bebe mais uma dose. O olhar fica espelhado. Senta no meio-fio da calçada. Olha as estrelas e lembra quando criança.
“Papai não quero provar nada
Eu já servi à Pátria amada
E todo mundo cobra minha luz
Oh, coitado, foi tão cedo
Deus me livre, eu tenho medo
Morrer dependurado numa cruz”
A vida era mesmo cruel. A solidão imitava, dia após dia, a dor do passado. Eram versos tristes e não havia como mudar isso. Sendo assim, olhando a imensidão do céu, com tímidas estrelas assobiando brilho, que nosso já grande herói fracassado chorou.
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