domingo, 17 de junho de 2012

Lembrança de Saudade I


Há muito tempo me sentia tão perdido que tinha esquecido alguns detalhes. Hoje, dentro da tristeza que sinto e embriago, consigo lembrar detalhes de uma cena que me marcou por muito tempo. E ainda hoje, quando acordo durante a noite sem conseguir dormir, penso se ela realmente aconteceu comigo. E com ela.

Estávamos andando ligeiramente bêbados, indo para nossas casas. Naquela época morávamos juntos aos nossos pais e não morávamos juntos. Era uma noite de verão e, com o sol se pondo, voltávamos às nossas realidades depois de viver momentos irreais, alheios à nosso dia-a-dia e implicitamente à nossa vontade.

Paramos um instante para beijarmos e olhar ao nosso redor. A geografia da rua antiga, de paralelepípedo, fazia nosso passo meio apresado ficar barulhento e engraçado. Pausa para o amor, pensei. O beijo inicialmente tímido, deu lugar a um sentimento que aflorava de forma mais intensa com o passar das horas e dos momentos felizes que aconteciam a todo momento. 

Minha mão, timidamente, pegou na sua e acabamos indo embora de mãos dadas. Durante o pequeno percurso que realizamos esse dia, conversávamos alegremente sobre nossos medos e vitórias de jovens. Com o passar do tempo fomos cúmplices desses sentimentos e cada vez que um medo era superado era festejado como a própria superação pessoal. Éramos inconstantes e inseguros, porém felizes.

Antes daquela noite acabar e o momento dar espaço para outras lembranças, ela me olhou nos olhos e me disse num tom inseguro: “por quê tu não mora sozinho? Poderíamos ir para teu apartamento agora”. A minha resposta acabou sendo inesperada até por mim, que alguns dias pensava e saiu de forma direta e simples. “Eu te amo”.

Sorrisos, palavras de afeto e carinhos foram trocados até o fim de nosso caminho. E as mãos continuaram juntas.

As lembranças, nesse momento, acabam aparecendo juntas e sem uma seqüência lógica e cronológica. Se eu pudesse materializá-las, juntaria elas todas juntas e faria uma colcha de retalhos, que acabaria sendo muito útil nesse inverno e até poderiam me acompanhar todas as noites, quando vou dormir pensando nela.

“Don't you worry 'bout what's on your mind, woman.
I'm in no hurry, I can take my time, woman.
I'm going red and my tounge's getting tied (tounge's getting tied).
I'm off my head and my mouth's getting dry.
I'm high, but I try, try, try, woman.
Let's spend the night together now”

(The Rolling Stontes)

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