Aos 20 anos, a
figura dela era formidável. Suas curvas eram dignas de modelo porémseu olhar
ainda remetia ao mistério. Silêncio no salão. Apenas a fumaça de um solitário
cigarro que sequer tinha a companhia de um cinzeiro. O tempo parecia não passar
mas todos os dias minha idade parecia dobrar. E eu tinha quase 70 reais no
bolso da minha calça jeans velha.
Antes de subir
para o apartamento dela, no oitavo andar de um prédio perto da praça central,
entrei no mercado ao lado e comprei uma garrafa de rum. Acabei me distraindo
com duas crianças descalças que brincavam sorridentes com tampinhas de
refrigerante. Acendi um cigarro novamente no silêncio do fim de tarde.
O elevador
estava estragado e subi os oito andares por escada. A porta do apartamento
estava aberta. Ela se encontrava de costas a mim, mas sabia que esperava por
mim. Estava escuro já e somente uma luz fraca emanava da janela ao lado.
Ficamos em silêncio até o telefone tocar. Ninguém atendeu. O telefone tocou por
vários minutos de forma ininterrupta.
Acabei
sentando no sofá. Ela continuava de costas. Um soluço. Dois soluços. Chouro.
Abri a garrafa e tomei um gole generoso. Não ofereci nada ao mundo, quanto mais
a ela que tão bem tinha me feito sempre. Chorei ao pensar nisso.
Já eram às três
e cinqüenta da manhã. Falei adeus, me
levantei e desci os oito andares por elevador. Nunca mais vi ela na minha vida.
Nunca mais consegui amar alguém.
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