- Que bom que ainda temos bastante tempo para ficarmos juntos hoje.
- Sim, minha namorada está chegando da cidade dos pais só de noite. Posso ficar aqui o dia inteiro.
Estavam nus. Abraçados. Morena e Eduardo eram amantes silenciosos, daqueles que ninguém suspeita nada.
- Deixa eu pegar meu celular, quero te mostrar uma foto.
- Vou te soltar, mas se demorar muito vou correndo atrás de você. Não consigo ficar muito tempo assim, sozinho.
Morena era loira, tinha 21 anos (na verdade 20, mas faria aniversário em poucas semanas), era caloura de humanas e tinha no seu olhar aquela inocência de inicio de vida. Carregava uma mochila cheia de livros (Paulo Freire, Lênin, Marx...) e de sonhos. Andava sempre cansada devido às poucas horas de sono. Tinha um olhar penetrante. Azul penetrante.
Já o Eduardo era o Eduardo. Ou o Duda. Na casa dos 30, andava naquela fase de não saber o que fazer da vida. Tinha tentado vários nadas. Estava no momento de decolar, mas estava com medo. Trabalhava e fingia que estudava. Mantinha um relacionamento conturbado com Ana, aquela menina que achava certa para ele. Ana amava. Eduardo, enrolava.
- Quem é?
- O Marcelo. É um menino que conheci na festa que fui semana passada, no sábado, lembra que te contei? Que te liguei bêbada e você não atendeu? haha..
- Hmmmm... lembro.
- Então, estou saindo com ele. Ele também estuda na universidade. Tem 23 anos e acabou de chegar de São Paulo. Ontem não consegui chegar cedo porque estava na casa dele. Acreditas que o sexo com ele foi tão maravilhoso quanto o nosso? Uma hora, fechei os olhos e achei que era você.
Morena e Eduardo tinham se visto algumas vezes no ponto de ônibus do Centro de Educação, enquanto Eduardo estava fazendo uma matéria como aluno ouvinte do mestrado. Um dia, Morena veio e pediu um cigarro; ele perguntou às horas. Os dois conversaram durante mais de uma hora na cantina da universidade. Ela matou aula e ele deixou a Ana esperando sozinha na fila do cinema. Fingiu uma enxaqueca feroz.
Os encontros casuais passaram a ter periodicidade: terça e sexta. Eduardo inventou um grupo de estudos e a vontade de retornar seus estudos acadêmicos. Morena inventou nada, mas gostava de ter esse amor proibido e proibitivo.
- Eu preciso ir embora.
Disse Eduardo com voz rasgada, entre dentes. Mais do que uma fala, era um rugido. A besta foi abatida com uma flechada direta ao coração.
- Mas meu bem, está cedo... Você acabou de dizer que a Ana só chega de noite e minha mãe está viajando...
- Tchau, tchau... vou aproveitar e comprar um livro para Ana, fazemos 3 anos, 8 meses e 13 dias amanhã.
E é realmente engraçado que o amor se manifeste desta maneira em nossa vida: tão suja, pura e repentinamente.
Palhoça, inverno de 16'
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