terça-feira, 4 de outubro de 2016

E seu eu, simplesmente, fosse você?

Confesso que depois deste tempo todo, ainda sinto falta do teu abraço. Estou sendo sincero, é verdade. Mas também sou sincero ao ponto de dizer que todo o amor que eu sentia, em partes, acabou se transformando em um grande... nada.

Prometi ser sincero e estou sendo. Ainda não te esqueci. Posso não lembrar qual livro você estava lendo na cafeteria, aquela vez que atravessei a cidade só para eu poder ficar uns minutos com você. (talvez você estivesse escrevendo ou até mesmo mexendo no celular). Confesso que não lembro mais qual sua cor favorita ou aquele apelido de infância que você me comentou, envergonhada, apenas uma vez. É, minha memória, para algumas coisas, anda meio estragada. Talvez seja a idade.

Mas há coisas que não posso (e talvez, nem queira) esquecer.  Não há como negar que lembro de cada detalhe do seu rosto e das centenas (ou serão milhares?) de sardinhas . Ou da imensidão que o verde dos seus olhos emana quando resolvia encarar eles, antes de você sorrir e eu, envergonhado, inventasse uma desculpa qualquer.

Também me nego (embora isso seja uma cisma pessoal e até fui orientado por você a esquecer) a esquecer de todas aquelas manhãs que acordamos juntos, que passamos juntos e vividas juntos. SIM. Vivemos juntos momentos que marcaram algo difícil de explicar. Algo que muda nossa vida e não muda com o tempo. Não sei se, aos quase 20, você consiga entender isso. 

Até porque nem eu consigo entender.

Mas tento. E tento. 

E não passa um dia sequer que não vejo a teu rosto refletido no reflexo da janela do meu quarto.

Eu não quero nada mais. Eu não sei o que está acontecendo aqui.  

Eu quero ir embora, mas quero ficar. 

Ficar preso a algo que não entendo. Talvez pela falsa esperança de um dia você voltar, como o filme “Julieta” de Almodóvar sabe? Provavelmente não. Filme não era a sua praia. Você achava Almodóvar chato e sem nexo. Preferia animações da Pixar. 

Certamente, você surpreende a quem esbarrar com você, como foi o meu caso.

Com carinho, do fantasma preso ao passado no presente,



Fernando R. Edmur.
Escrito no inverno de 2016

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