Nós estávamos sozinhos. Sua respiração, até poucos instantes atrás ofegante, tinha voltado ao normal. Vestiu uma roupa qualquer e sem falar nada pra mim, pegou um cigarro e ficou olhando pela janela.
Eu não tinha nada a dizer. Estava deitado olhando pra ela. Na verdade, admirando aquele corpo moreno que até dois minutos atrás me pertencia. E ela, como se soubesse o que eu estava pensando, olhou para mim.
A fumaça do cigarro desenhava formas abstratas à sua frente. Vida ou morte? Apenas dor. A dor se fazia presente mais uma vez na minha frente e dessa vez parecia que não iria mudar nada tão cedo. Simplesmente tinha acontecido tudo embaixo do meu próprio nariz e nada nem ninguém iria mudar nada naquele outono.
“Poderia ficar a eternidade inteira olhando para você”.
Eu realmente tinha dito isso? Acredito que isso fez tudo acabar. Ela, menina morena de olhos cor escura e cabelos negros, não era o tipo de pessoa mole pela qual eu conquistaria novamente com palavras escritas em versos alheios. Nada iria sobressaltar essa mulher saída de um conto do Charles Bukowski. Ela sequer mudou de fisionomia ao ouvir minha declaração. Apenas tragou o cigarro mais uma vez, e voltou a admirar a chuva pela janela.
Sem dizer nada e efetuando o menor barulho possível, vesti minhas roupas e fui embora. Pretendia jamais voltar.
Acabei voltando apenas dois dias depois.
Nenhum comentário:
Postar um comentário