“Não pense em palavras quando ficar bloqueado; procure
enxergar melhor a cena”.
Jack Kerouac
Não pense. Pense. Desista.
E foi isso que aconteceu. Não
queria mais escrever. Estava cansado de viver como meus escritores favoritos.
Eu queria ser normal. Beber apenas aos finais de semana. Ter um ou dois filhos.
Uma bela mulher me esperando para o jantar. Talvez até uma pequena casa de
praia e um emprego estável.
Trabalhei durante três dias como
pizzaiolo no centro. Meu trabalho era basicamente fazer massa (muita massa)
durante dezesseis horas seguidas. Poderia fazer uma casa com tanta massa.
Recebi uma advertência por fumar na cozinha. Recebi outra. Recebi uma
advertência por fumar e beber na cozinha. Acabaram sendo tantas advertências
que não recebi nenhum tostão pelos três dias. Ainda acabei discutindo com meu
supervisor. Aquele sim era um pobre coitado. Trabalhava as mesmas dezesseis
horas que eu. Talvez mais. O prazer dele era gritar conosco. Foi lá que acabei
conhecendo Joel, meu novo colega de quarto. Estamos dividindo um quarto sujo no
subúrbio, embaixo de um boteco que fica aberto por dezesseis horas diárias.
Pense. Não pense. Desista de
novo. E de novo se precisar.
Acabei de escrever um conto que
será publicado na próxima semana. Ele se chama “O anjo que beija minha bunda”. E
hoje ele a beijará, enquanto escuto o Joel gritar bêbado com os meninos da rua
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